Segundo CNTur, turismo deve ficar aquecido em julho no nordeste e em regiões de montanha
Dos pacotes de turismo comprados para julho, 55% são de viagens nacionais e 45% internacionais | Divulgação/Prefeitura de Fortaleza
Marcado pelas férias escolares, o mês de julho de 2022 vem com expectativas e dados positivos para um dos setores mais impactados negativamente, no Brasil, pela pandemia de covid-19: o de turismo. De acordo com o diretor da Confederação Nacional do Turismo (CNTur) e diretor-executivo da Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de São Paulo (Fhoresp), Edson Pinto, houve um crescimento de 100% na venda de pacotes turísticos para este mês, em comparação com o mesmo período do ano passado, apesar de a taxa de câmbio estar desfavorável e o preço médio das passagens ter subido cerca de 123% frente ao do último ano, e, dessa forma, deve haver um crescimento na abertura de postos de trabalho do setor no mês também.
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Em 2020 e 2021, segundo Edson, o turismo demitiu "muito". "Infelizmente foi necessário, nós procuramos manter o máximo possível. Os nossos sindicatos fizeram diversas convenções coletivas de trabalho, autorizando a suspensão dos contratos de trabalho, redução de salário, condição de jornada. Então, nós mantivemos o que foi possível. Mas como nós somos hoje um dos setores que mais emprega no Brasil, nossa capacidade de geração de empregos é muito grande, então todo o excedente nós demitimos. E agora está havendo as recontratações, tanto você observa no quadro geral de desempregos, que nós já estamos com um dígito, muito por conta do setor de serviços e o nosso incluído como um grande potencial empregador", completa.
De janeiro a abril deste ano, a receita e a movimentação de consumidores no setor cresceu 47,7% em relação ao mesmo período de 2021. Entretanto, Edson analisa que esse percentual e o de aumento na venda de pacotes para julho "não são normais", ou seja, ocorreram porque, em decorrência da pandemia, o turismo "praticamente parou" em 2020 e 2021. "Foram anos devastadores para o turismo. Toda a parte de hotelaria parou, a parte de bares e restaurantes fechados, atendendo só delivery, o setor de eventos foi o que mais sofreu, está voltando praticamente só agora", afirma. Por causa da crise sanitária, nos últimos dois anos, conforme a CNTur, surgiu no Brasil uma demanda reprimida por viagens "muito grande" e, então, pessoas acostumadas a viajar fizeram uma poupança forçadamente e, agora, conseguem comprar pacotes em julho, apesar do câmbio e da valorização das passagens.
Dos pacotes comprados, 55% são de viagens no território nacional e 45% para destinos internacionais, sendo que, em 2021, 30% foram para viagens domésticas no período. Entre os destinos nacionais para os quais as passagens foram mais adquiridas, de acordo com Edson, estão cidades do Nordeste e regiões de montanha, caracterizadas pelo frio, como Campos do Jordão, no interior de São Paulo, e a Serra Gaúcha. Já entre os internacionais, Argentina e Estados Unidos. Levantamento da plataforma de pesquisa, comparação e compra de passagens aéreas MaxMilhas mostra que o número de passageiros que viajarão de avião em julho aumentou 53% em comparação com o mesmo mês do ano passado. Resorts foram as hospedagens mais buscadas para o período, na plataforma, e as reservas para mais de três pessoas predominaram.
No ranking dos destinos com mais passagens compradas, São Paulo lidera. Na sequência, vêm Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Salvador, Belém e Goiânia. Ainda conforme a MaxMilhas, as compras de passagens aéreas para duas ou mais pessoas, para julho, cresceu 53% frente ao registrado no ano passado. De acordo com a Infraero, os 17 aeroportos que administra devem receber cerca de 4,1 milhões de passageiros no período das férias escolares (1º de julho a 1º de agosto). O número representa um crescimento de 96% em comparação com o movimento registrado no mesmo período de 2021, quando cerca de 2,1 milhões de pessoas embarcaram e desembarcaram nos terminais. Está previsto ainda 76% mais pousos e decolagens, com o total indo a 30,4 mil. Em comparação com o período de 5 de julho a 5 de agosto de 2019, os índices significam crescimentos de 13% e 6%, respectivamente.
Segundo a presidente nacional da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Magda Nassar, o setor está caminhando para alcançar ou superar os números pré-pandemia, "em um momento que a demanda possa ser abraçada pelos serviços de turismo, já que houve redução de equipes e equipamentos em toda a cadeia. E a demanda tem se mostrado superior ao que o mercado consegue absorver". Também de acordo com ela, levantamento de amostragem trimestral da ABAV, a ser concluído no final de julho, aponta "um crescimento acelerado".
"O desejo do consumidor brasileiro de viagens agora é justamente sentir-se livre e movimentar-se. O setor está muito aquecido e bastante produtivo, a recuperação vem num ritmo surpreendente. As vendas de pacotes turísticos estão em uma crescente e agentes de viagens têm adaptado o desejo ao que cabe no planejamento financeiro do passageiro, inclusive com parcelamentos e congelamento do dólar quando parceladas as viagens internacionais. A alta temporada de julho terá bons números, os voos estão cheios - tanto os nacionais, quanto os internacionais", completou.
A Abav também afirma que as prais do Nordeste e destinos de montanha, como Campos do Jordão e Gramado (RS), registram crescimento na procura dos pacotes turísticos para julho. "No internacional, a Argentina está com câmbio a nosso favor, tornando a viagem muito acessível, a Colômbia é um destino que tem sido cada vez mais explorado e os Estados Unidos segue liderando", fala Nassar.
Edson Pinto, da CNTur, reforça que as férias escolares são muito importantes para o setor de viagens, assim como os grandes eventos, como corridas da Fórmula 1, Carnaval e a Parada do Orgulho LGBT. Fábio Carvalho, CEO da Associação Nacional de Empresas Administradoras de Aeroportos (Aneaa) constituída pelas concessionárias dos aeroportos de Brasília, Guarulhos (SP), Campinas (SP), Belo Horizonte, Confins (MG), Rio de Janeiro e São Gonçalo do Amarante (RN) , diz que, de fato, o setor considera o período de 1º a 30 de julho, que coincide com férias escolares em vários estados, como alta temporada. "Nesse período, historicamente, há um aumento significativo da quantidade de voos", pontua.
Para este mês, a Aneaa prevê que a movimentação de passageiros terá um crescimento na ordem de 50% a 60%, em comparação com julho de 2021, e de cerca de 25%, frente a junho de 2022. Carvalho explica que o número de postos de trabalho nos aeroportos "está diretamente relacionado com a quantidade de voos, quantidade de brasileiros voando".
"Épocas como essa aqui que a gente tem no mês de julho, há um momento sensível da necessidade de pessoas que trabalham. É importante dizer também que profissionais das áreas de aeroportos não são profissionais muito fáceis de contratar muito rapidamente. Existem atividades que são mais fáceis, por exemplo, as atividades de limpeza dos aeroportos, mas existem atividades que exigem uma formação maior, sobretudo porque, em qualquer função que se desempenha no aeroporto, há uma preocupação e um treinamento com segurança. Mas sim, estão sendo gerados novos postos de trabalho, que criam efeitos positivos também na economia", acrescenta.
Nos aeroportos administrados pelas concessionárias também, tradicionalmente, em julho, o litoral nordestino fica entre os destinos mais procurados pelos passageiros. Entretanto, há um movimento de pessoas direcionado para as capitais também, pois muitos aproveitam para visitar familiares. Segundo a Aneaa, o movimento de passageiros vem crescendo paulatinamente nos aeroportos abrangidos. Nos meses anteriores, ficou próximo, mas não houve retorno aos níveis pré-pandemia e, acrescenta Carvalho, isso não vai acontecer, porque a pandemia pode ter alterado um comportamento na aviação "de maneira estrutural". "Um exemplo disso é a quantidade de reuniões que se faziam presencialmente, tinham pessoas que se deslocavam de numa cidade de avião para fazer a reunião presencialmente e que agora com a cultura da utilização da videoconferência, elas vão ser afetadas estruturalmente, isso não vai acontecer da mesma forma".
Desafios
Edson Pinto afirma que a venda de pacotes turísticos estão nos níveis de 2020 e que deve demorar mais um pouco para voltarem aos de 2019. A expectativa do turismo é que o "bom resultado de julho" continue nos próximos meses de 2022. Os principais desafios a serem superados para que o setor cresça no país atualmente, fala o diretor da CNTur, são a inflação, a incerteza "muito grande nos mercados" causada pela guerra na Ucrânia, as restrições adotadas pela China para conter o avanço da pandemia, o que leva o país a deixar de exportar alguns produtos, e a falta de profissionais qualificado.
Nas palavras de Edson, o setor de alimentação fora do lar "sempre falou não, agora aumentou o [o preço do] tomate, agora aumentou a carne, agora aumentou o alho e a cebola. Desta vez, nós temos um aumento de A a Z nos alimentos. Os preços explodiram, tudo cresceu muito, então fica muito caro comer fora de casa". No caso das passagens aéreas, o principal fator que influenciou na alta do preço foi o valor do combustível das aeronaves. Em relação à mão de obra, o diretor da CNTur diz que "está havendo um apagão" da especializada no setor de turismo.
"Porque esses trabalhadores que nós fomos forçados a demitir foram para dirigir Uber, abriram o próprio negócio, foram para construção civil, foram para outros ramos e acabam não querendo voltar. Por diversos motivos. Que o nosso setor trabalha finais de semana, trabalha de noite, trabalha de madrugada, feriados, Natal, réveillon. E muita gente não quer ter esse tipo de comprometimento. Então, a mão de obra que está aparecendo é absolutamente desqualificada", pontuou.
Dessa forma, acrescenta, as empresas do turismo estão qualificando profissionais internamente e, assim, a absorção de mão de obra ocorre em um nível mais lento do que poderia estar se o número de profissionais qualificados que se apresentam para trabalhar fosse maior. Fábio Carvalho, da Aneaa, por sua vez, diz que o principal desafio que o setor de aviação precisa superar para crescer mais é "como endereçar o valor da passagem". "Eu acho que esse é um problema que precisa ser enfrentado como país, embora nós cuidemos do setor dos aeroportos que está absolutamente preparado, tem toda infraestrutura necessária, com sobra para que tenha uma ampliação da capacidade de número de passageiros. O desenvolvimento da aviação depende de um valor melhor das passagens aéreas. Isso tem a ver com vários fatores, em especial com o custo do querosene brasileiro", completa. Ele avalia que o brasileiro ainda "voa pouco", frente ao observado em outros países.
Pandemia
Para atrair os consumidores que permanecem com medo de viajar, por causa da pandemia, apesar de a vacinação estar avançada e o período mais crítico da crise sanitária ter ficado para trás, o setor de turismo mantém práticas iniciadas nos dois últimos anos. "Muitos dos protocolos implantados do Plano São Paulo, que foi modelo para todos os estados, muitas dessas práticas vieram para ficar mesmo no nosso setor. Então a gente pode dizer para o consumidor, o viajante, que pode ficar absolutamente tranquilo, que bares, restaurantes, hotéis, agências de viagem, os meios de transporte, todos continuam adotando medidas restritivas para impedir a propagação do vírus. Tudo dentro do possível, claro, mas que essa preocupação ainda existe, sim", fala Edson.
Entre as medidas, em hotéis, colocação de pouca mobília nos quartos de hoteis, para facilitar a higiene e a limpeza, e/ou implementação de check-in online, para evitar contato; e, em bares e restaurantes, separações de acrícilico no buffet, álcool gel nas mesas e/ou preferência por cardápio digita. O setor de alimentação fora do lar avalia também manter o uso de face shield ou máscara por parte dos garçons. Nos aeroportos ligados à Aneaa e nos aviões, de acordo com Carvalho, "está sendo garantida a limpeza das instalações".
A Infraero diz que "a empresa tem adotado as recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre distanciamento social, uso de máscara e higienização das mãos dentro dos terminais, que estão sinalizados e têm veiculado mensagens audiovisuais".
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