Bloqueio das contas de Trump, uma ação ditatorial dos monopólios
Trump possui suas contas das redes sociais bloqueadas apenas por denunciar as eleições mais fraudulentas da história de seu país
Nos últimos dias, correram o mundo as notícias sobre a invasão de membros da extrema-direita ao Capitólio, em Washington, capital dos Estados Unidos. Durante a recontagem dos votos de uma das eleições mais fraudulentas da história, manifestantes que apoiam o candidato vítima da fraude, Donald Trump, se direcionaram para protestar, invadindo a casa legislativa mais importante de seu país. As forças policiais feriram muitos dos manifestantes e mataram quatro pessoas. O protesto é o estopim de uma das maiores crises do período recente envolvendo o maior país imperialista do mundo.
Paralelamente a isso, o presidente Donald Trump, que passou todo o tempo denunciando as eleições, teve suas contas nas três principais redes sociais (Twitter, Facebook e Instagram) bloqueadas. No Twitter, sua conta foi bloqueada às 21h da quarta-feira (6). O bloqueio durou 12 horas a partir da hora em que o perfil de Trump, que possui 89 milhões de seguidores, teve de apagar 3 tuítes específicos que a empresa considera violar as normas da rede. Caso as postagens não fossem apagadas, a conta permaneceria bloqueada. Além disso, o Twitter ameaçou suspender a conta, caso Trump viole novamente as suas regras. Como os tuítes foram apagados, a conta voltou ao “normal”.
É preciso notar que nenhum dos tuítes censurados incentivava os protestos e a ocupação do congresso. Pelo contrário, em dois deles Trump pedia que não houvesse violência, que os guardas do Capitólio fossem deixados em paz e, em um terceiro, um vídeo de Trump pedia que os manifestantes voltassem para casa.
No Facebook, o bloqueio ocorreu na quarta-feira e se estendeu também para a conta de Trump no Instagram, tendo durado 24 horas. Supostamente, o fizeram porque Trump teria violado duas regras da rede social. Além disso, o Facebook também tirou do ar um vídeo em que Trump pede que os manifestantes voltem para casa, mas ressalta que de fato as eleições foram fraudadas e não concorda com o resultado, o mesmo vídeo censurado no Twitter. A justificativa para a censura foi de que o vídeo apresentava “risco de violência”. O mesmo vídeo foi removido também pelo Instagram e pelo Youtube.
O Facebook também emitiu uma nota intitulada “Nossa resposta à violência em Washington” em que declarava que iria tirar do ar posts que apoiassem a invasão ao Capitólio ou que convocassem manifestações contrárias ao resultado das eleições manipuladas e fraudadas pelo imperialismo. A justificativa é que “Biden foi eleito presidente com resultados que foram certificados por todos os 50 estados” e que os EUA têm leis, procedimentos e instituições estabelecidas para garantir a transição pacífica de poder após a eleição.
Essa ação conjunta de todas as redes sociais é uma demonstração clara de que isso se trata de um verdadeiro monopólio, cuja principal política é defender os interesses do imperialismo, se utilizando, para isso, de expedientes totalmente antidemocráticos. Ainda que Donald Trump seja um presidente de extrema-direita, inimigo do povo, essa ação política dos monopólios imperialistas é um verdadeiro atentado contra a liberdade de expressão. E não há nenhum motivo verdadeiramente válido para tal ação. Trump estava simplesmente se utilizando do seu direito de protestar e de denunciar a fraude eleitoral que ocorreu em seu país. No entanto, o imperialismo “democrático” não quer que ninguém critique as eleições fraudadas por eles.
Convém lembrar que não é a primeira vez que eles se utilizam de censura contra Donald Trump. Durante as eleições no ano passado, vários tuítes do presidente norte-americano tiveram o seu engajamento dificultado pela plataforma, que não permitia que estes fossem comentados ou compartilhados. Além disso, eles todos continham uma nota da empresa refutando a afirmação de que as eleições seriam fraudulentas. Todo esse receio da denúncia do processo eleitoral norte-americano pode ser considerado como um forte indicativo de que houve efetivamente uma fraude gigantesca nessas eleições. Caso não houvesse, por que tanta preocupação em impedir que as pessoas se manifestem nesse sentido?
Além disso, não há nenhuma prova de que Trump possua alguma relação direta com esses protestos. E, mesmo que ele tenha alguma relação, não dá para dizer que a censura de suas redes sociais seria uma ação legítima do imperialismo contra ele. É sempre importante considerar que esse tipo de repressão criminosa é feita contra a extrema-direita num primeiro momento para depois ser usada contra a esquerda e setores organizados da classe trabalhadora, portanto não há nada que comemorar nesse sentido. Alguns setores confusos da esquerda parecem ainda acreditar que Joe Biden seria uma alternativa muito melhor do que Trump para a população, no entanto, a realidade é que Biden e o imperialismo que o apoia são muito mais poderosos e responsáveis por tudo que há de pior na política internacional: golpes de estado, invasões, guerras etc.
A situação toda mostra que os monopólios das redes sociais são totalmente contrários à liberdade de expressão e estão transformando a internet, que tinha o potencial de ser um dos meios de comunicação mais democráticos e acessíveis à população, em um ambiente onde o único discurso presente é o que esteja de acordo com o que o imperialismo permite. É preciso sempre denunciar essas práticas antidemocráticas, mesmo quando elas ocorrem com elementos secundários da burguesia, que estão sendo oprimidos por seu setor fundamental.
Oano político de 2021 iniciou-se nos EUA com mais um episódio da luta do atual presidente norte-americano para manter seu cargo. No dia 3 de janeiro, o jornal The Washington Post publicou o conteúdo de uma chamada entre Trump, seus advogados e oficiais responsáveis pelas eleições em segundo turno no Estado da Geórgia, ocorrida no dia anterior, na qual os democratas acabaram elegendo os dois senadores, o que lhes garantiu a maioria no Senado Federal, pela diferença de uma cadeira.
Na conversa de cerca de uma hora, o presidente reafirmou suas acusações de fraude eleitoral e de que centenas de milhares de votos seus haviam sido desviados para Joe Biden. Trump exigiu que Brad Raffensperger, Secretário de Estado da Geórgia, “encontrasse 11.780 votos“, o suficiente para que ele vencesse o democrata no Estado e o ameaçou, sugerindo que “era um grande risco” que ele e sua equipe ignorassem os supostos crimes eleitorais.
Invasão do Capitólio
O evento parecia ser a última crise do governo Trump, diante de uma de suas últimas cartadas tornou-se coisa secundária depois que na última quarta (dia 6), após uma manifestação em frente à sede do governo, apoiadores de Trump – principalmente ativistas de grupos direitistas – rumaram em direção ao Capitólio, sede do Congresso Nacional, que se preparava para realizar a sessão do Senado que ratificaria a eleição de Joe Biden à presidência da República e sua posse prevista para o próximo dia 20.
O episódio, longe de ser “um raio em um céu azul”, é a perfeita expressão da gravidade da gigantesca crise política norte-americana.
Os acontecimentos evidenciaram a crise e divisão entre os republicanos, bem como tendem a acirrá-la, e do conjunto do regime político norte-americano.
Antes dos protestos, Trump discursou publicamente pedindo a seu vice, Mike Pence, que não presidisse a sessão de legitimação de Biden como presidente eleito, o que foi rejeitado, aumentando a ira dos trumpistas contra Pence, que teve de ser retirado com o maior esquema de segurança do Capitólio.
Depois do ocorrido, alguns dos senadores republicanos que assinaram o manifesto em defesa de Trump na semana passada deram para trás. Sete dos 12 senadores que haviam se posicionado no parlamento por uma investigação das urnas nos estados disputados (a aprovação dos resultados foi estado a estado, então com isso o processo poderia sofrer novas travas e se prolongar) voltaram atrás.
Alguns democratas e republicanos começaram também a se pronunciar pela remoção de Trump imediatamente do poder através da emenda 25. Para isso, Mike Pence e uma parcela do gabinete de Trump teriam que declará-lo inapto para ocupar a presidência.
Mostrando o acirramento da guerra entre as alas imperialistas, Trump foi – uma vez mais – bloqueado no Twitter – por 12 horas – e no Facebook por tempo indeterminado.
A ocupação se deu também em meio a uma enorme turbulência política provocada em ambas as câmaras sobre o veto de Trump ao orçamento do Departamento de Defesa norte-americano. No Congresso, o veto foi derrubado por 322 a 87 votos e, no Senado, por 81 a 13. O posicionamento dos parlamentares republicanos nos dois momentos mostra que Trump, mesmo sofrendo muitos ataques, tem sólido apoio de cerca de 30% do partido.
A crise que se manifesta no Capitólio de forma explosiva é derivada da crise econômica de 2008, que levou ao acirramento da luta de classes com a polarização política e o crescimento da extrema-direita, o que é um sintoma natural da decomposição do regime.
O regime político norte-americano, outrora intransponível, hoje mostra sua fragilidade. Primeiro, com a eleição de Trump em 2016, contra os interesses dos setores mais poderosos do imperialismo. Depois, com os fracassos dos EUA na Síria, no Iraque, Afeganistão, Irã, Venezuela. Em outros tempos, possivelmente os EUA teriam conseguido invadir ou derrubar esses governos. Ela se manifestou também de forma contundente e no interior do próprio País, na questão explosiva da mobilização dos negros, que se acirrou devido justamente à crise que promoveu a maior deterioração nas condições de vida do povo norte-americano desde a crise de 1929, devendo superá-la.
O coronavírus veio para coroar a crise, o sistema social norte-americano não consegue agir contra isso, mostrando o nível de decomposição da economia do País e do capitalismo de conjunto. Os EUA são o país mais atingido pela pandemia, com mais de 360 mil mortos, têm mais de 40 milhões de famintos e o maior número de desempregados de sua história, mesmo sendo o país mais desenvolvido do mundo.
O ápice da crise, por ora, veio com as eleições presidenciais, nas quais, mesmo com toda a campanha de guerra da burguesia imperialista contra Trump e a favor de Biden, o democrata só conseguiu ganhar com muita fraude e por muito pouco.
A vitória de Biden, no entanto, está longe de levar a uma mínima estabilidade da situação, como demonstra a ocupação do Capitólio pelos apoiadores de Trump e a sua recusa frequente de aceitar a derrota.
Chamou a atenção também que a manifestação da direita não tivesse em contrapartida nenhuma mobilização popular em favor da confirmação de Biden, o que pode estar evidenciando a fragilidade do apoio eleitoral que o reacionário candidato democrata recolheu por sua posição de “oposição” a Trump, com apoio de praticamente toda a esquerda e as organizações dos trabalhadores norte-americanas, mas que não significam, nem de longe, que ele seja um candidato popular e que mereça ser defendido. O imobilismo da esquerda nesse acontecimento revela, de uma vez por todas, a sua total integração ao regime.
Por uma alternativa dos trabalhadores
A radicalização de Trump acelera o processo de desagregação do Partido Republicano que representa um desgaste do regime político norte-americano de conjunto. Podendo abrir caminho para uma desagregação mais ampla, inclusive, do Partido Democrata.
O melhor cenário, seja para os trabalhadores norte-americanos ou seja para os povos oprimidos do mundo, é justamente a instabilidade, que abre a brecha para a ascensão das mobilizações populares e o entrave do regime imperialista contra os povos do mundo.
O temor de que essa mobilização ocorra fica patente diante do medo da burguesia da mobilização popular, que ficou nítido na cobertura da imprensa imperialista sobre a invasão do congresso.
Os trabalhadores precisam tirar proveito da divisão da burguesia para dar a batalha por colocar em pé um partido da classe operária e dos demais setores explorados dos EUA, uma ferramenta fundamental para as lutas que tendem a se colocar no próximo período ante a política de expropriação do povo trabalhador que as duas alas do imperialismo vão impor para satisfazer os vorazes apetites dos grandes monopólios norte-americanos.
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