sábado, 28 de novembro de 2020

SEGUNDO TURNO NUPCIAL - Bruno Boulos e Guilherme Covas.

 


SEGUNDO TURNO NUPCIAL

“Ué, você tá torcendo pra mim?” / “Não sei. Estou indeciso”
20 NOV 2020, 08:48

Debate entre Bruno Boulos e Guilherme Covas.

— Absurdo o que você fez no trânsito de São Paulo.

— Que que eu fiz?

— Colocou punho cerrado na luz de pare/siga.

— E daí? É o símbolo do Black Lives Matter. Você fala inglês?

— Óbvio que falo. Como é que eu ia fazer sucesso na Vila Madalena sem falar inglês?

— Isso é verdade.

— Aqueles artistas que eu levo pra tirar foto no acampamento com maquiagem de cara suja também não passariam nem na minha porta se eu não falasse inglês.

— Acampamento tem porta?

— Não é da sua conta. Usei uma metáfora.

— Eu entendi. Também acho fundamental sem-teto usar metáfora. Aliás, acho chiquérrimo.

— Obrigado. Como diria Dostoievski, beleza é fundamental.

— Vinicius.

— Hein?

— Quem disse isso foi Vinicius de Moraes. E não tava falando de metáfora, tava falando de mulher.

— Como é que eu vou citar um boêmio de Ipanema num acampamento sem-teto? Na minha área só entra escritor russo. E eu falo o que eu quiser nesse debate, porque os checadores estão de folga.

— Como assim? Eles não trabalham no segundo turno da eleição?

— Aqui em São Paulo, não. Como ficamos nós dois, eles relaxaram e deixaram com a gente. Eleição fake news free.

— Uau, agora você arrasou. Se eu não fosse candidato votava em você.

— Thanks. Quer dizer, valeu. Eu jamais votaria em você.

— Poxa, é assim que você responde à minha gentileza progressista?

— Sorry. É que eu tenho que manter a minha fama de mau.

— Entendo. Mandar queimar pneu e quebrar tudo não combina com a nossa sofisticada urbanidade, né?

— Exatamente. Eu fiquei todo arrepiado quando te vi mandando soldar porta de comércio. Pensei: esse cara é bom, vou votar nele. Aí lembrei que eu ia ser candidato também, então é o seguinte: absurdo isso que você fez!

— Ué, você acabou de dizer que gostou…

— Absurdo você não ter soldado todas as portas da cidade.

— Calma. Por isso sou candidato à reeleição.

— Mentira. Você teve tempo de soldar muito mais portas do que soldou.

— Se eu soldasse todas as portas como é que você ia invadir?

— Nunca ouviu falar de retroescavadeira?

— Ué, tá no partido do Ciro Gomes?

— Não. Mas fizemos uma vaquinha e compramos a retroescavadeira do Cid. Como você mesmo já disse, acampamento não tem porta.

— Confesso que estou gostando do seu programa de governo.

— Obrigado. Você é muito educado.

— Você também. Ops… Quero dizer… Você é muito rude e malvado.

— Imagina. São seus olhos.

— Um abraço aos seus amigos do Leblon. Pena que eles não votam aqui, senão você ganhava.

— Ué, você tá torcendo pra mim?

— Não sei. Estou indeciso.

— Tem muito indeciso nesta eleição. Eu também estou.

— Normal. Não é fácil frequentar as mesmas festas, puxar o saco dos mesmos artistas, fazer a mesma pantomima politicamente correta e na solidão da urna ter que trair uma alma gêmea.

— Agora me emocionei. Snif…

— Segura o choro, companheiro. Olha a sua fama de mau.

— É que você diz coisas tão bonitas… Os tucanos são líricos. Me lembro daquele colóquio do Doria com o Alexandre Frota, e o Rodrigo Maia aos prantos. Não sou só eu que me emociono.

— Isso é porque você não viu um sarau filosófico do Fernando Henrique com o Luciano Huck.

— Que tal?

— Transcendental.

— Imagino. Mas não posso transcender ainda, tenho muito pneu pra queimar.

— Isso, uma revolução de cada vez. Falar em rua, você podia fazer umas labaredas em frente ao punho cerrado que eu botei na luz de pare/siga.

— Puta foto.

— Primeira página da Folha.

— Com certeza. Mas foi bom você lembrar: que absurdo foi esse que você fez no trânsito de São Paulo?

— Ué, achei que você tinha gostado.

— É genial, mas tem o mesmo problema de soldar porta do comércio: por que não fez luz de punho cerrado em todos os cruzamentos da cidade?

— O dinheiro não deu. Tive que comprar muito caixão pra apavorar a população. Administrar é fazer escolhas: tem uma hora que ou você apavora, ou você irrita.

— Nessa parte de irritar, você perdeu muito tempo com aquele rodízio burro de carros pra fingir salvar vidas, aglomerando o transporte público enquanto repetia “fique em casa”. Tinha que ter concentrado nas luzes de punho cerrado. A SEGUNDO TURNO NUPCIAL

“Ué, você tá torcendo pra mim?” / “Não sei. Estou indeciso”
20 NOV 2020, 08:48

Debate entre Bruno Boulos e Guilherme Covas.

— Absurdo o que você fez no trânsito de São Paulo.

— Que que eu fiz?

— Colocou punho cerrado na luz de pare/siga.

— E daí? É o símbolo do Black Lives Matter. Você fala inglês?

— Óbvio que falo. Como é que eu ia fazer sucesso na Vila Madalena sem falar inglês?

— Isso é verdade.

— Aqueles artistas que eu levo pra tirar foto no acampamento com maquiagem de cara suja também não passariam nem na minha porta se eu não falasse inglês.

— Acampamento tem porta?

— Não é da sua conta. Usei uma metáfora.

— Eu entendi. Também acho fundamental sem-teto usar metáfora. Aliás, acho chiquérrimo.

— Obrigado. Como diria Dostoievski, beleza é fundamental.

— Vinicius.

— Hein?

— Quem disse isso foi Vinicius de Moraes. E não tava falando de metáfora, tava falando de mulher.

— Como é que eu vou citar um boêmio de Ipanema num acampamento sem-teto? Na minha área só entra escritor russo. E eu falo o que eu quiser nesse debate, porque os checadores estão de folga.

— Como assim? Eles não trabalham no segundo turno da eleição?

— Aqui em São Paulo, não. Como ficamos nós dois, eles relaxaram e deixaram com a gente. Eleição fake news free.

— Uau, agora você arrasou. Se eu não fosse candidato votava em você.

— Thanks. Quer dizer, valeu. Eu jamais votaria em você.

— Poxa, é assim que você responde à minha gentileza progressista?

— Sorry. É que eu tenho que manter a minha fama de mau.

— Entendo. Mandar queimar pneu e quebrar tudo não combina com a nossa sofisticada urbanidade, né?

— Exatamente. Eu fiquei todo arrepiado quando te vi mandando soldar porta de comércio. Pensei: esse cara é bom, vou votar nele. Aí lembrei que eu ia ser candidato também, então é o seguinte: absurdo isso que você fez!

— Ué, você acabou de dizer que gostou…

— Absurdo você não ter soldado todas as portas da cidade.

— Calma. Por isso sou candidato à reeleição.

— Mentira. Você teve tempo de soldar muito mais portas do que soldou.

— Se eu soldasse todas as portas como é que você ia invadir?

— Nunca ouviu falar de retroescavadeira?

— Ué, tá no partido do Ciro Gomes?

— Não. Mas fizemos uma vaquinha e compramos a retroescavadeira do Cid. Como você mesmo já disse, acampamento não tem porta.

— Confesso que estou gostando do seu programa de governo.

— Obrigado. Você é muito educado.

— Você também. Ops… Quero dizer… Você é muito rude e malvado.

— Imagina. São seus olhos.

— Um abraço aos seus amigos do Leblon. Pena que eles não votam aqui, senão você ganhava.

— Ué, você tá torcendo pra mim?

— Não sei. Estou indeciso.

— Tem muito indeciso nesta eleição. Eu também estou.

— Normal. Não é fácil frequentar as mesmas festas, puxar o saco dos mesmos artistas, fazer a mesma pantomima politicamente correta e na solidão da urna ter que trair uma alma gêmea.

— Agora me emocionei. Snif…

— Segura o choro, companheiro. Olha a sua fama de mau.

— É que você diz coisas tão bonitas… Os tucanos são líricos. Me lembro daquele colóquio do Doria com o Alexandre Frota, e o Rodrigo Maia aos prantos. Não sou só eu que me emociono.

— Isso é porque você não viu um sarau filosófico do Fernando Henrique com o Luciano Huck.

— Que tal?

— Transcendental.

— Imagino. Mas não posso transcender ainda, tenho muito pneu pra queimar.

— Isso, uma revolução de cada vez. Falar em rua, você podia fazer umas labaredas em frente ao punho cerrado que eu botei na luz de pare/siga.

— Puta foto.

— Primeira página da Folha.

— Com certeza. Mas foi bom você lembrar: que absurdo foi esse que você fez no trânsito de São Paulo?

— Ué, achei que você tinha gostado.

— É genial, mas tem o mesmo problema de soldar porta do comércio: por que não fez luz de punho cerrado em todos os cruzamentos da cidade?

— O dinheiro não deu. Tive que comprar muito caixão pra apavorar a população. Administrar é fazer escolhas: tem uma hora que ou você apavora, ou você irrita.

— Nessa parte de irritar, você perdeu muito tempo com aquele rodízio burro de carros pra fingir salvar vidas, aglomerando o transporte público enquanto repetia “fique em casa”. Tinha que ter concentrado nas luzes de punho cerrado. A demagogia infantiloide e sem pretexto irrita muito mais.

— Tem toda a razão. Meu voto é seu.

— De jeito nenhum. O meu voto é que é seu.

— Nada disso. Votaremos os dois em você.

— Não estou à vontade pra votar em mim. Me sinto um pouco egoísta e autoritário.

— Isso nunca! Democracia acima de tudo. Dane-se o voto.

— Apoiado. Vidas frívolas importam.

— Me empresta a sua maquiagem?

— Claro. A de intelectual ou a de besta-fera?

— A de revolucionário.

— Ah, entendi. Partiu Vila Madalena?

— Sextou.

 demagogia infantiloide e sem pretexto irrita muito mais.

— Tem toda a razão. Meu voto é seu.

— De jeito nenhum. O meu voto é que é seu.

— Nada disso. Votaremos os dois em você.

— Não estou à vontade pra votar em mim. Me sinto um pouco egoísta e autoritário.

— Isso nunca! Democracia acima de tudo. Dane-se o voto.

— Apoiado. Vidas frívolas importam.

— Me empresta a sua maquiagem?

— Claro. A de intelectual ou a de besta-fera?

— A de revolucionário.

— Ah, entendi. Partiu Vila Madalena?

— Sextou.

 

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