terça-feira, 6 de outubro de 2020

A nova politica externa do Brasil, por Augusto Nunes.

 


Em 2017, às vésperas do despejo determinado pelo impeachment, Dilma Rousseff pediu a ajuda da "comunidade internacional" para escapar de um imaginário "golpe de Estado". Foi atendida por seis irrelevâncias da série C: Cuba, Nicarágua, Bolívia, Venezuela, Equador e El Salvador.  Dilma enxergou no punhado de pigmeus insolentes a perfeita tradução da "indignação internacional diante da farsa aqui montada".

Governantes de nações civilizadas, que têm mais o que fazer, só conseguiram ver um tedioso esperneio de cúmplices da nulidade a caminho da demissão. E o coro dos cucarachas foi silenciado de vez pelo discurso de posse de José Serra, chanceler do presidente Michel Temer. "A política externa será regida pelos valores do Estado e da nação, não do governo e jamais de um partido", resumiu o novo ministro. Morreu naquele dia a diplomacia do cinismo, nascida do acasalamento incestuoso de stalinistas farofeiros do PT e nacionalistas de gafieira do Itamaraty — uns e outros ainda sonhando com a Segunda Guerra Fria.

O aleijão subiu a rampa do Planalto em 1° de janeiro de 2003, acampado na cabeça baldia de Lula. Nos oito anos seguintes, fantasiado de potência emergente, o Brasil acoelhou-se com exigências descabidas do Paraguai e do Equador, suportou com passividade bovina bofetadas desferidas pela Argentina, hostilizou a Colômbia democrática para afagar os narcoterroristas das FARC, meteu o rabo entre as pernas quando a Bolívia confiscou ativos da Petrobras e rasgou o acordo para o fornecimento de gás.

Confrontado com bifurcações ou encruzilhadas, nunca fez a escolha certa. E frequentemente se curvou a imposições de parceiros vigaristas. Quando o Congresso de Honduras, com o aval da Suprema Corte, destituiu legalmente o presidente Manuel Zelaya, o Brasil se dobrou às vontades de Hugo Chávez. Decidido a reinstalar no poder o canastrão que combinava um chapelão branco com o bigode preto-graúna, convertido ao bolivarianismo pelos petrodólares venezuelanos, Chávez obrigou Lula a transformar a embaixada brasileira em Tegucigalpa na Pensão do Zelaya.

Para afagar Fidel Castro, o governo deportou os pugilistas Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux, capturados pela Polícia Federal quando tentavam fugir para a Alemanha pela rota do Rio. Entre a civilização e a barbárie, o fundador do Brasil Maravilha invariavelmente cravou a segunda opção. Com derramamentos de galã mexicano, prestou vassalagem a figuras repulsivas como o faraó de opereta Hosni Mubarak, o psicopata líbio Muammar Kadafi, o genocida africano Omar al-Bashir, o iraniano atômico Mahmoud Ahmadinejad e o ladrão angolano José Eduardo dos Santos.

Coerentemente, o último ato do mitômano que se julgava capaz de liquidar com conversas de botequim os antagonismos milenares do Oriente Médio foi promover a asilado político o assassino italiano Cesare Battisti. Herdeira desse prodígio de sordidez, Dilma manteve o país de joelhos e reincidiu em parcerias abjetas. Entre o governo constitucional paraguaio e o presidente deposto Fernando Lugo, ficou com o reprodutor de batina. Juntou-se à conspiração que afastou o Paraguai do Mercosul para forçar a entrada da Venezuela. Rebaixou-se a mucama de Chávez até a morte do bolívar-de-hospício que virou passarinho. Para adiar a derrocada de Nicolás Maduro, arranjou-lhe até papel higiênico.

Ao preservar a política obscena legada pelo padrinho, a afilhada permitiu-lhe que cobrasse a conta dos negócios suspeitíssimos que facilitou quando presidente, sempre em benefício de governantes amigos e empresas brasileiras bancadas por financiamentos do BNDES. Disfarçado de palestrante, o camelô de empreiteiras que se tornariam casos de polícia com a descoberta do Petrolão ganhou pilhas de dólares, um buquê de imóveis e a gratidão paga em espécie dos países que tiveram perdoadas suas dívidas com o Brasil. Fora o resto.

Enquanto Lula fazia acertos multimilionários em Cuba, Dilma transformava a Granja do Torto na casa de campo de Raúl Castro, também presenteado com o superporto que o Brasil não tem. Ela avançava no flerte com os companheiros degoladores do Estado Islâmico quando a Operação Lava Jato começou. Potencializada pela crise econômica, a maior roubalheira da história apressou a demissão da mais bisonha governante do mundo.

"O Brasil vai perder o protagonismo e a relevância mundial", miou Dilma ao voltar para casa. O que o país perdeu foi o papel que desempenhou desde 2003: o de grandalhão idiota e obediente aos anões da vizinhança. A recuperação da altivez, reafirmada desde o primeiro momento pelo governo de Jair Bolsonaro, precipitou a colisão entre o Brasil e os populistas larápios, os ditadores assumidos e os tiranos ainda no armário que prendem quem discorda, assassinam oposicionistas e sonham com a erradicação do Estado de Direito.

A era da cafajestagem não será ressuscitada, confirmou a entrevista concedida à Record TV pelo chanceler Ernesto Araújo. Seja qual for o desfecho da disputa pela Casa Branca, as relações entre o Brasil e os Estados Unidos continuarão amistosas. E o Itamaraty continuará defendendo em escala mundial a prevalência dos interesses nacionais e das liberdades democráticas. É o que deseja o Brasil decente.

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