segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O DISCURSO DE 'POBRE DE DIREITA É BURRO' É ARROGANTE E PRECONCEITUOSO

 

O DISCURSO DE 'POBRE DE DIREITA É BURRO' É ARROGANTE E PRECONCEITUOSO, DIZ PESQUISADORA

Para a cientista social Esther Solano, crítica a apoio conquistado pelo presidente Jair Bolsonaro com auxílio de R$ 600,00 revela 'falta de empatia com a situação dramática que grande parte da população passa'
A classes D e E, que já sofriam com a crise econômica, tiveram situação agravada com a pandemia Foto: EPA
A classes D e E, que já sofriam com a crise econômica, tiveram situação agravada com a pandemia Foto: EPA"Quando você está à beira da fome, sua vida está pautada por coisas muito mais concretas e mais de subsistência do que de estratos ideológicos", diz a cientista social Esther Solano, professora da USP (Universidade de São Paulo) que estuda conservadorismo no Brasil, sobre o aumento de popularidade do presidente Jair Bolsonaro detectado por pesquisa do Instituto Datafolha.

Segundo o Datafolha, 37% dos brasileiros consideram o governo Bolsonaro ótimo ou bom, o maior índice desde o início do mandato.

Solano diz que a renda emergencial distribuída pelo governo diante da crise gerada pela epidemia de Covid-19 é um fator central no aumento de popularidade do presidente Jair Bolsonaro, já que a maioria dos entrevistados não sabe que a medida tem autoria da oposição.

Ela acredita também que a esquerda institucional está perdendo o contato com a base.

"Nas entrevistas a gente ouve muito isso, que as pessoas acham que a esquerda não está mais nos territórios, não está mais preocupada com os pobres e os trabalhadores, é um sentimento de abandono."Solano afirma que os entrevistados das classes D e E estão em situações muito dramáticas em que os R$ 600 do auxílio emergencial são a diferença entre comer e não comer. Isso, diz, explica o aumento de popularidade de Bolsonaro no Nordeste, tradicionalmente reduto do PT, um partido de esquerda.

"Para quem tem fome, a ideologia está muito longe", diz Solano.

A pesquisadora critica o discurso de algumas pessoas da esquerda de que "pobre de direita é burro".

"É claramente arrogante, preconceituoso, e uma falta de entendimento e de empatia com uma situação dramática que grande parte da população passa", afirma.

Diz também que essas são as mesmas pessoas que até pouco tempo atrás se declaravam lulistas."Muito pouco mudou neste estrato, o que mudou foi a estratégia do Bolsonaro. Ele entendeu que num momento como o atual um subsídio emergencial é extremamente importante para as pessoas e pode fazer com que sua popularidade aumente", afirma.

Leia abaixo entrevista da pesquisadora à BBC News Brasil.

Bolsonaro atingiu seu maior índice de popularidade desde o início do mandato Foto: EPA

BBC News Brasil - Não é uma fala que ignora também que as pessoas podem votar por outros interesses, como a pauta conserva?

Solano - Sim, com certeza, muitas pessoas, inclusive entre as classes baixas, votaram no Bolsonaro muito motivadas por questões morais, ética religiosa, essa ideia de que ele é um homem de fé, ligado à tradição e aos costumes. Então essa ideia de que "pobre de direita é burro" ignora a importância do voto religioso no campo eleitoral brasileiro. O voto religioso tem muito a ver com o voto popular, lembrando que o PT teve também teve fundação religiosa, era ligado à igreja católica de base.


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