Quarto maior destino das vendas brasileiras, a Argentina tem irritado integrantes do comércio entre os dois países, com atrasos de mais de três meses na liberação de importações.
“Misturou crise econômica, pandemia e crise da dívida”, diz Federico Servideo, diretor-presidente da Câmara de Comércio Brasil-Argentina, à Exame. Segundo ele, as autorizações com prazos de 10 dias demoram muitas vezes 60 ou 120 dias, por conta do endurecimento do regime de controle cambial.
Recentemente, a Câmara de Importadores da República Argentina (CIRA) reclamou de mais de 1.000 licenças sem desbloqueio, necessário para retirar a mercadoria do porto. Dessas, grande parte são de produtos do Brasil.
Representando os exportadores brasileiros, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) se queixa da exigência de documentos adicionais não previstos nas normas internas do país, o que causa demora na liberação e insegurança jurídica.
Além disso, a CNI fala do recente aumento de licenças não automáticas incidentes sob produtos brasileiros. Segundo levantamento da confederação, 52,3% das exportações do Brasil para a Argentina passam por esse tipo de regulação atualmente. Em 2019, essa porcentagem era de 18%, que, segundo queixas de importadores argentinos à imprensa local, já havia sido o pior ano da última década.
“A situação está sendo recebida com bastante preocupação, e as casas importadoras da Argentina têm se expressado enfaticamente sobre a necessidade de resolver essa situação”, diz Servideo, que garante que as tensões estão sendo resolvidas no diálogo entre os dois países.
Crise tripla
Os argentinos já entravam em seu terceiro ano de recessão e encaravam inflação galopante e crise fiscal quando veio a pandemia. O país caminha, agora, para o pior momento econômico dos últimos 20 anos.
Em meio a esse cenário, a necessidade por caixa em dólares se tornou mais urgente do que nunca, depois que a renegociação da dívida internacional argentina foi anunciada, há dua semanas.
Além de precisar honrar o compromisso, a Argentina precisa reunir esforços para sobreviver à mais longa quarentena do mundo. O país está praticamente fechado há cerca de 160 dias, em função da dificuldade para conter a disseminação da covid-19 em seu território, onde mais de 6 mil pessoas já morreram após contrair a doença.
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