quinta-feira, 13 de junho de 2019

Megalópole maia é revelada sob floresta da Guatemala por varredura de laser

Exclusivo: megalópole maia é revelada sob floresta da Guatemala por varredura de laser

Uma vasta e interconectada rede de cidades antigas foi lar de milhões de pessoas a mais do que se pensava.quinta-feira, 1 de fevereiro

Por Tom Clynes
Pesquisadores identificaram ruínas de mais de 60 mil casas, palácios, rodovias elevadas e outros recursos arquitetônicos que estavam escondidas há anos embaixo de selvas do norte da Guatemala. A descoberta é considerada um grande avanço na arqueologia maia.
A tecnologia de laser conhecida como LiDAR remove digitalmente o dossel da floresta para revelar as ruínas antigas abaixo, mostrando que as cidades maias, como a Tikal, eram muito maiores que as pesquisas por terra sugeriam.
Com a tecnologia revolucionária conhecida como LiDar (da sigla inglesa  “Light Detection And Ranging”), os especialistas removeram digitalmente o dossel das imagens aéreas da agora despovoada paisagem, revelando ruínas de uma civilização pré-colombiana extensa – muito mais complexa e interligada do que a maioria dos pesquisadores da cultura maia supunha.
"As imagens do LiDAR deixam claro que toda essa região era um sistema de assentamentos cuja escala e densidade populacional haviam sido subestimadas", explicou Thomas Garrison, arqueólogo do Ithaca College e Explorador National Geographic, especialista em tecnologia digital para pesquisas arqueológicas.
Garrison faz parte de um consórcio de pesquisadores que participam do projeto, liderado pela Fundação PACUNAM (em espanhol), uma organização sem fins lucrativos guatemalteca que promove pesquisas científicas, desenvolvimento sustentável e preservação do patrimônio cultural.
O projeto mapeou mais de 2 mil km² da Reserva da Biosfera Maia na região de Petén, na Guatemala, produzindo o maior conjunto de dados do LiDAR já obtido para pesquisas arqueológicas.
Os resultados indicam que a América Central apoiou uma civilização avançada que foi, em seu auge – há cerca de 1,2 mil anos – mais comparável às culturas sofisticadas, como a da Grécia Antiga ou a da China, do que às cidades-estados espalhados e pouco povoados, que a pesquisa em terra sugeria.
Além de centenas de estruturas anteriormente desconhecidas, as imagens do LiDAR apontam rodovias elevadas que conectam centros urbanos e pedreiras. Os sistemas complexos de irrigação e terraços apoiaram uma agricultura intensiva, capaz de alimentar massas de trabalhadores que reformularam drasticamente a paisagem.
Os antigos maias nunca usaram a roda ou animais de carga, mas " era uma civilização que literalmente estava movendo montanhas", sugeriu o arqueólogo Marcello Canuto, da Universidade Tulane, que participou do projeto.
"Havia uma presunção ocidental de que civilizações complexas não poderiam florescer nos trópicos", comentou Canuto, que conduz pesquisas arqueológicas em um sítio guatemalteco conhecido como La Corona. "Mas com as novas provas baseadas no LiDAR da América Central e de Angkor Wat [Camboja], agora temos de considerar que sociedades complexas podem, sim, ter se formado nos trópicos e fizeram sua vida lá".

Ideias surpreendentes

"O LiDAR está revolucionando a arqueologia do mesmo modo que o Telescópio Espacial Hubble revolucionou a astronomia", disse Francisco Estrada-Belli, arqueólogo da Universidade de Tulane e Explorador National Geographic. "Precisamos de 100 anos para passar por todos os dados e realmente entender o que estamos vendo".
Varreduras de laser revelam mais de 60 mil estruturas maias desconhecidas que eram parte de um vasto sistema de cidades conectadas, fortificações, fazendas e estradas.
No entanto, a pesquisa já fomentou ideias surpreendentes sobre padrões de assentamento, conectividade interurbana e militarização nas terras baixas maias. No pico do seu período clássico – cerca de 250-900 d.C. –, a civilização abrangeu uma área do dobro do tamanho da Inglaterra medieval, mas era muito mais densamente povoada.
"A maioria das pessoas estava confortável com estimativas populacionais de cerca de 5 milhões", explicou Estrada-Belli, que dirige um projeto arqueológico multidisciplinar em Holmul, na Guatemala. "Com esses novos dados, é razoável pensar que havia entre 10 a 15 milhões de pessoas, incluindo os que viviam em áreas baixas e pantanosas que muitos de nós pensavam ser inabitáveis".
Escondido nas profundezas da floresta, a recém-descoberta pirâmide tem cerca de sete andares, mas é quase invisível a olho nu.
O olho nu vê apenas a selva e um pequeno monte coberto, mas o LiDAR e o software de realidade aumentada revelam uma antiga pirâmide maia.
Praticamente todas as cidades maias estavam ligadas por calçadas em número o suficiente para sugerir que fossem muito trafegadas e usadas para comércio e outras formas de interação regional. As rodovias elevadas facilitavam a passagem, mesmo durante as estações chuvosas. Em uma parte do mundo onde geralmente há muita ou muito pouca precipitação, o fluxo de água foi meticulosamente planejado e controlado através de canais, diques e reservatórios.
Entre os achados mais surpreendentes está a ubiquidade de muros defensivos, muralhas, terraços e fortalezas. "A guerra não só estava acontecendo no final da civilização", sugeriu Garrison. "Foi em larga escala e sistemática e durou muitos anos".
A pesquisa também revelou milhares de poços escavados pelos saqueadores modernos. "Muitos dos novos sítios são novos apenas para nós; eles não são novidade para os saqueadores", alertou Marianne Hernandez, presidente da Fundação Pacunam.
A degradação ambiental é outra preocupação. A Guatemala está perdendo mais de 10% de suas florestas por ano e a perda de habitat acelerou por sua fronteira com o México, enquanto os invasores queimam a terra para abrir espaço à agricultura e ao assentamento humano.

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