Objeto extraterrestre causou cratera na zona sul de São Paulo, crava estudo
Em nova investigação conduzida por geólogo da USP, foram descobertas esférulas nos sedimentos presentes no interior da cratera de Colônia, em Parelheiros
3 min de leituraCom 3,6 quilômetros de diâmetro, cerca de 300 metros de profundidade e uma borda soerguida de 120 metros, a cratera de Colônia é uma formação geológica situada em Parelheiros, na região Sul de São Paulo, a menos de 40 quilômetros da Praça da Sé. Tendo o interior atulhado por sedimentos e a borda coberta por vegetação, essa estrutura permaneceu escondida até o início da década de 1960, quando fotos aéreas e depois imagens de satélite mostraram sua forma circular quase perfeita.
Sua origem, a partir do impacto de um corpo extraterrestre, só foi confirmada, porém, em 2013, por meio da análise microscópica de sedimentos colhidos em diferentes níveis de profundidade. Esse estudo e outros realizados posteriormente, todos eles conduzidos pelo geólogo Victor Velázquez Fernandez, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), já foram objeto de reportagem da Agência FAPESP.
Nova pesquisa feita por Velázquez trouxe agora evidências ainda mais robustas sobre o impacto que produziu a cratera. Artigo a respeito foi publicado na revista Solid Earth Sciences: Morphological aspects, textural features and chemical composition of spherules from the Colônia impact crater, São Paulo, Brazil.
“Encontramos esférulas no interior da cratera, em profundidades de 180 a 224 metros, cuja forma só pode ser explicada pelo impacto de um corpo extraterrestre, que gerou temperaturas da ordem de 5 mil graus Celsius e pressões da ordem de 40 quilobars – equivalentes a 40 mil vezes a pressão atmosférica padrão”, conta Velázquez.
Segundo o pesquisador, o fato de as esférulas terem sido achadas no interior da cratera e não fora é bastante raro, porque, normalmente, os impactos ejetam sedimentos para fora. “Nossa explicação é que a energia do impacto transformou as rochas existentes no local em uma nuvem densa e superaquecida. Esse material foi lançado para cima, congelou e voltou a cair na base da recém-formada cratera”, diz.
Os tamanhos das esférulas, em seus eixos de maior comprimento, variam de 0,1 a 0,5 milímetro, com prevalência de 0,4 milímetro. Quanto à forma, 44% são ovais, 30% têm aparência de gota, 18% são esféricas e 8% têm configuração de disco (prolate). As demais não se encaixam nessas classificações.
“O fato de elas não serem todas esféricas é importante, porque indica que não podem ser classificadas como micrometeoritos; uma vez que estes, devido ao atrito com a atmosfera, são sempre esféricos. As formas ovais, de disco e gota são especialmente relevantes, porque só podem ser explicadas por meio de nossa hipótese: da nuvem superaquecida, ejeção vertical e posterior solidificação e queda do material”, comenta Velázquez.
Outra informação importante proporcionada pela pesquisa decorre da composição química das esférulas, consistente com aquela esperada para as rochas que compõem a borda da cratera. “Aqui, é oportuno destacar, entre tantos outros elementos, silício, alumínio, crômio e níquel. A falta de evidências de que tenham recebido material do objeto que impactou a área sugere, fortemente, que esse objeto tenha sido um cometa, e não um asteroide metálico ou rochoso”, argumenta o pesquisador.
Mas uma afirmação definitiva em relação a isso ainda não pode ser feita. E demandaria outras pesquisas. “Embora desconheçamos o tamanho do objeto, a velocidade e o ângulo de incidência, por comparação com outros impactos, podemos dizer que a colisão gerou uma devastação de 20 quilômetros de raio. Outro aspecto que ignoramos também é a data do evento, estimada, por enquanto, em um intervalo de 5 milhões a 36 milhões de anos no passado”, resume Velázquez.
O estudo foi apoiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) por meio de dois auxílios regulares: o primeiro sobre o cadastramento de elementos geológicos e geomorfológicos da Cratera de Colônia e o segundo sobre os registros geológicos na região concedidos ao pesquisador.