Considerado um dos homens mais bonitos do Brasil, Mário Gomes despontou como galã no final da década de 1970. Moreno e dono de um belo par de olhos azuis, o ator foi vítima de um boato maldoso que quase destruiu sua carreira, no auge de sua popularidade.
Mário do Nascimento Gomes Filho nasceu no Rio de Janeiro, em 11 de dezembro de 1952. Ele herdou o nome do pai, que era um vendedor dono de uma grande lábia, e que se tornou um homem muito bem relacionado devido a sua desenvoltura com negócios.
Mário Gomes, o pai, entretanto, sonhava em produzir cinema, e chegou a fundar sua própria produtora, a ABC - Artes Brasileiras Cinematográficas, que produziu um único filme, Elas Atendem Pelo Telefone (1963), que tinha a vedete Anilza Leone no elenco. Mário Gomes, o produtor cinematográfico também atua na película, o que faz com que alguns bancos de dados confundam a filmografia de Mário Gomes, o galã, creditando erroneamente este filme a sua carreira.
Pouco tempo depois de produzir este filme, Mário Gomes pai faleceu repentinamente, e seu filho ingressou no Conservatório Nacional de Teatro, para honrar o sonho de seu genitor. Muito bonito, o jovem conseguiu um papel na novela A Mansão dos Vampiros (1970), a última produzida pela TV Excelsior, antes do seu fechamento. Ainda em 1970, Mário Gomes fez um papel não creditado em Anjos e Demônios (1970), de Carlos Hugo Christensen.
A trama, exibida apenas no Rio de Janeiro, devido a decadência da emissora já em vias de encerrar as atividades, não foi suficiente para deixar o nome do ator famoso. E foi somente em 1972, quando Renata Fronzi o convidou para atuar na peça O Peru, que Mário Gomes começou a galgar seu lugar como ator.
Paralelamente a peça, ele trabalhava como dublê do ator Jece Valadão na novela Tempo de Viver (1972), único trabalho de Gomes na Tupi. A novela, produzida pela TV Tupi do Rio de Janeiro, não foi exibida pela Tupi paulista, devido a divergências entre as emissoras, e em São Paulo, acabou sendo televisionada pela TV Gazeta. Jece Valadão, que também era o diretor da obra, era o protagonista, mas nas cenas em que aparecia dirigindo sua motocicleta, era Mário Gomes quem pilotava.
Já na Globo, Mário Gomes ganhou um pequeno papel na novela Bicho do Mato (1972), e também atuou na novela que a sucedeu, A Patota (1972-1973), e aos poucos começou a arrancar suspiros das fãs que se encantavam com o belo rapaz.
Mas foi como o Roberto Leal no grande sucesso Gabriela (1976), que Mário Gomes conquistou seu lugar ao sol na teledramaturgia. Depois ele ainda trabalhou em Anjo Mau (1976).
Ainda coadjuvante, o ator chamou tanta atenção, que seria elevado a protagonista em seu trabalho seguinte.
Janet Clair então escalou Mário Gomes para viver o cantor Dino César em Duas Vidas (1976), estrelada por Betty Faria e dirigida por Daniel Filho.
O colar usado pelo personagem de Gomes se tornou moda no Brasil na época, e o ator tornou-se um grande sucesso.
A música Chiclete e Cabochard, cantada por Mário Gomes, que fazia parte da trilha sonora da novela também fez grande sucesso. O que levou o ator a gravar um disco, lançando-se também na carreira de cantor.
Mário Gomes cantando Chiclete e Cabochard
Anos antes, em 1972, o ator havia feito muito sucesso também no teatro, quando atuou em Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá. A peça fez muito sucesso, e rendeu ao ator o Prêmio Governador do Estado e o APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de ator revelação e melhor ator coadjuvante.
O apresentador e produtor Carlos Imperial comprou os direitos da peça, para transformá-la em um filme. Imperial havia pedido financiamento para a Embrafilme, empresa estatal da época, para fazer um filme infantil, mas na verdade fez uma pornochanchada.
Ele mudou completamente o texto do autor Fernando Melo, e fez uma obra completamente anárquica, que não agradou o autor do texto original. Carlos Imperial então mudou o nome do filme para Ele, Ela e Etc, e a produção foi rodada em 1973.
Mário Gomes, que na época das filmagens ainda era quase um desconhecido, mas Imperial viu que o ator despontava na televisão, e engavetou o filme pronto, esperando Mário Gomes estourar.
Com o sucesso de Duas Vidas, Imperial tirou o filme da gaveta, e o lançou nos cinemas com o nome o Sexo das Bonecas, em 1976. Ele também encomendou um cartaz ao ilustrador Benício, onde Gomes aparecia montado como um travesti, com perucas e cílios postiços, algo que não existia na obra.
Mário Gomes achou o material publicitário apelativo, e processou o diretor.
Furioso com o ator, Imperial foi responsável por criar uma notícia falsa envolvendo Mário Gomes. O jornal sensacionalista Luta Democrática (fundado por Tenório Cavalcanti, "o homem da capa preta") publicou uma matéria chamada "Mário Gomes Entalado com uma cenoura dá entrada em hospital". A notícia dizia que o ator havia sido internado em uma maternidade com uma cenoura presa nas partes íntimas, e logo a história tomou uma enorme proporção nacional. Jornais publicavam matérias com títulos como "Mário Gomes internado em uma maternidade para dar à luz a uma cenoura".
Apesar de fantasiosa, o boato correu o país, e arruinou a carreira do galã em ascensão, que não conseguiu divulgar o disco que acabará de gravar. Mário Gomes passou a ser chamado de "cenourinha", "Pernalonga", e todo tipo de galhofa maldosa devido a vingança promovida por Carlos Imperial. E ninguém mais usava a correntinha de Dino César.
Na época, protagonista de Duas Vidas, acreditou-se também que o diretor Daniel Filho tivesse parte na campanha difamatória contra o ator. Tudo porque Daniel era casado com Betty Faria na época, a estrela da novela, e par romântico de Mário Gomes.
E durante as filmagens, Betty e Mário começaram a namorar, fazendo com que a atriz pedisse o desquite de Daniel Filho. Foi dito até que Daniel pediu a cabeça do ator, mas na verdade o diretor afastou-se da novela, que foi assumida por Gonzaga Blota, e foi viajar para fora do país.
Mário Gomes então desapareceu da televisão. O ator processou o jornal, e venceu a batalha judcial, sendo indenizado em 100 salários mínimos pela difamação, mas o estrago já estava feito.
O casal Betty e Mário, entretanto, continuou junto, apesar do escândalo. E em 1978, dois anos após do surgimento do boato cruel, protagonizaram no cinema o filme O Cortiço (1978), baseado na obra de Aluísio de Azevedo. O sucesso da produção, que por muitos anos foi exibido nas escolas, durante as aulas de literatura, garantiram ao ator o retorno à televisão.
O diretor Fábio Sabag convidou Mário para viver um dos garotões surfistas em O Pulo do Gato (1978). Mário Gomes havia provado que era inocente, mas teve que brigar para retomar a sua carreira, agora como coadjuvante.
Mas o belo rapaz ainda fazia as telespectadoras suspirarem, e ele passou a ser escalado para diversas produções. Ele atuou então em Marron Glacê (1979), Plumas e Partês (1980) e ganhou destaque como o Jero em Jogo da Vida (1981).
Depois vieram papéis maiores em Sol de Verão (1982), Guerra dos Sexos (1983) e finalmente ele voltou a ser protagonista, como o jogador de futebol Luca em Vereda Tropical (1984).
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