A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou na noite desta segunda-feira (9) que interrompeu os estudos clínicos da CoronaVac, a vacina chinesa que vem sendo desenvolvida contra o coronavírus. A suspensão foi determinada depois da "ocorrência de um evento adverso grave". Dessa forma, nenhum novo voluntário poderá ser vacinado.
O produto está em fase três de testes, a mais avançada nesse tipo de estudo. O problema ocorreu em 29 de outubro, mas o órgão federal não detalhou qual evento adverso foi observado no participante nem disse se o voluntário é do Brasil. A confirmação de que se trata de um brasileiro veio da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
O coordenador da Conep, Jorge Venâncio, disse ao Estadão na noite desta segunda-feira que o alerta partiu do pesquisador responsável pelos testes, um profissional do Hospital das Clínicas de São Paulo.
— Estamos acompanhando de perto. É bastante improvável que o evento tenha qualquer relação com a vacina, mas está sendo investigado. Acredito que rapidamente vai ser esclarecido — disse.
Ele disse não ter como detalhar o evento adverso que atingiu o paciente, mas confirmou que se trata de um voluntário brasileiro.
Esse tipo de interrupção é prevista pelas normativas da Anvisa e faz parte dos procedimentos de boas práticas clínicas esperadas para estudos desse tipo conduzidos no Brasil.
"A Anvisa reitera que, segundo regulamentos nacionais e internacionais de boas práticas clínicas, os dados sobre voluntários de pesquisas clínicas devem ser mantidos em sigilo, em conformidade com princípios de confidencialidade, dignidade humana e proteção dos participantes", disse a agência em nota. "A Anvisa mantém o compromisso com o Estado brasileiro de atuar em prol dos interesses da saúde pública."
A CoronaVac está sendo testada em outros países, como a China, além do Brasil. Mesmo se o evento tivesse ocorrido em outro país, ele provavelmente afetaria o andamento dos testes em território brasileiro, como ocorreu com a vacina desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. Nesse caso, os estudos foram retomados após análises de um comitê independente de cientistas.
Em nota, o Instituto Butantã disse ter sido "surpreendido, na noite desta segunda-feira, com a decisão da Anvisa" e "que está apurando em detalhes o que houve com o andamento dos estudos clínicos da CoronaVac". "O Butantã informa ainda que está à disposição da agência reguladora brasileira para prestar todos os esclarecimentos necessários referentes a qualquer evento adverso que os estudos clínicos podem ter apresentado até momento".